Biografia
Poeta, tradutor, ensaísta e professor, Sérgio Luiz Rodrigues Medeiros nasceu em 1959, em Bela Vista, Mato Grosso do Sul, Brasil, crescendo na região fronteiriça entre Brasil e Paraguai, circunstância que oportunizou ao poeta um contato intenso com a mistura dos idiomas locais: português, espanhol e línguas indígenas (principalmente o guarani). Em 1995, defendeu sua tese de doutorado sobre a mitologia do grupo linguístico Jê, e desde então traduziu diversos trabalhos baseados nas tradições mitopoéticas Ameríndias. Atualmente o autor reside em Florianópolis, Santa Catarina.
Medeiros utiliza sua poesia e tradução como formas de difusão da cultura Ameríndia, tais como seus mitos poéticos, e suas diferentes formas de relação com o mundo natural. Ele também combina poesia experimental e tradições indígenas para tornar confusa a noção de humano, atribuindo qualidades humanas a entidades como plantas, animais e condições atmosféricas. Indo além de uma mera identificação da voz poética com a natureza, Medeiros desenvolve uma poética inteiramente baseada em noções indígenas que abalam a definição de humano. Em uma tentativa de ressignificar as fronteiras entre humano e não-humano, fugindo dos moldes Ocidentais, o poeta transforma seres em coisas, e coisas em seres, elucidando a coexistência compartilhada entre todos os elementos presentes no universo. Embora não faça referências diretas às questões ambientais, ou aos direitos indígenas, sua obra poética pode ser lida por um viés anti-antropocêntrico, e mostrar uma busca pela descolonização da poesia.
Alguns de seus textos também inovam na estética do absurdo para produzir imagens impressionantes da subjetividade das plantas. No início de O sexo vegetal, Medeiros cita o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, que reflete sobre o “perspectivismo”, termo cunhado pelo estudioso, que diz que se nós quisermos, verdadeiramente, conhecer a natureza, não é suficiente projetar nossos próprios esboços e desejos nela, mas sim assumir seu ponto de vista. O que é crucial a respeito dessa ideia é que não se trata de uma inversão permanente da dicotomia ser humano/animal, mas sim um posicionamento temporário ou dêitico, no qual animais, que são as presas dos humanos, podem enxergar a si mesmos como predadores de outros animais ou até mesmo de seres humanos. A personalidade, consequentemente, apenas adquire significado no ato de ser afirmada, um conceito que realça a natureza flutuante do(s) ser(es).
Em Tótens (2012), um volume que reúne dois trabalhos (Enrique Flor e Os Eletoesqus), Medeiros mais uma vez enfatiza a ideia de troca de perspectivas. Enrique Flor é a história de um personagem de Ulysses de James Joyce, o músico português Enrique Flor, que toca seu irresistível “órgão selvagem” em casamentos, antes de viajar para o Brasil e encontrar a exuberância da vegetação tropical. Uma continuação do tema de O sexo vegetal, esse divertido conto sem sentido também nos lembra do nosso parentesco original com o mundo das plantas, uma vez que Flor está empenhado em casar com pessoas cujos sobrenomes também se referem a elementos do mundo natural. O segundo livro, Os Eletoesqus, descreve a existência de figuras lendárias totêmicas que incorporam a identidade fluida dos espíritos ancestrais humanos/animais.
Alguns de seus livros de poesia incluem: Alongamento (2004), O sexo vegetal (2009), O choro da aranha etc. (2013), A idolatria poética ou a febre de imagens (2017), entre outros.