Ecopoesia

O Rio das Mortes

Sérgio Medeiros

O fotógrafo espanhol conheceu o Rio das Mortes. Imaginava um rio violento. Ou sombrio. Nada transparente.

 

Então viajou de ônibus. Cruzou Goiás. Depois pegou carona na carroceria de uma caminhonete. No início da tarde ou da manhã viu um índio forte arrancando ou plantando mandioca. 

 

A caminhonete parou na frente de uma choça indígena e o rapaz desceu.

 

O Rio das Mortes (cheio e escuro) passava a alguns metros dali: na outra margem a água lambia a mata fechada que semelhava um forte.

 

Um riacho desaguava no Rio das Mortes. Transparente. Folhas acumulavam-se no fundo.

 

Dentro do riacho pássaros mergulhadores caminhavam e engoliram peixes.

 

O rapaz se agachou e fotografou os pássaros e as folhas e os peixes. Um pássaro de pernas longas e finas se afastou de um olho aberto entre peixes que fugiam. O pássaro entrou no Rio das Mortes e desapareceu na sua água turva. Os peixes iam e vinham na água transparente. A correnteza arrastava em silêncio algumas folhas. De repente o pássaro emergiu do Rio das Mortes com estardalhaço. 

 

Medeiros, Sérgio. "Sexo Vegetal". São Paulo: Editora Iluminaturas, 2009. p. 66




Comment Box is loading comments...