Ecopoesia

Kapoor (Epílogo)

Sérgio Medeiros

O sol estava sujo, ou parecia, na rua e na calçada. Havia um sopro gasto e fixo ali, entre crianças deformadas. 

 

Entramos, éramos três. Frescas sombras e claridades, como numa biblioteca imponente, com guardas. Eis que:

 

A névoa desce e se debate embaixo / 

ou a névoa sobe e seus pés 

somem, enquanto sua cabeleira,

no alto, enleia-se

na arquitetura…

 

O esqueleto da névoa 

é como um…

vácuo longuíssimo

é, escurecendo,

se esconde no seu sopro alvo…

 

A névoa é um dedo 

tocando o teto / ou

unha imensa de um dedo

grosso…

ficando no chão…

 

(Ao redor, sempre para

cima: as paredes não falam,

mas têm pomo de adão

acentuado / diante do espelho,

nossos reflexos esmigalhados voam para

todos os lados, como bandos

de pássaros velozes.)

 

*Este poema poderia se chamar “Autorretrato do autor.”

 

Medeiros, Sérgio. "Sexo Vegetal". São Paulo: Editora Iluminaturas, 2009. p. 172




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