O sol estava sujo, ou parecia, na rua e na calçada. Havia um sopro gasto e fixo ali, entre crianças deformadas.
Entramos, éramos três. Frescas sombras e claridades, como numa biblioteca imponente, com guardas. Eis que:
A névoa desce e se debate embaixo /
ou a névoa sobe e seus pés
somem, enquanto sua cabeleira,
no alto, enleia-se
na arquitetura…
O esqueleto da névoa
é como um…
vácuo longuíssimo
é, escurecendo,
se esconde no seu sopro alvo…
A névoa é um dedo
tocando o teto / ou
unha imensa de um dedo
grosso…
ficando no chão…
(Ao redor, sempre para
cima: as paredes não falam,
mas têm pomo de adão
acentuado / diante do espelho,
nossos reflexos esmigalhados voam para
todos os lados, como bandos
de pássaros velozes.)
*Este poema poderia se chamar “Autorretrato do autor.”
Medeiros, Sérgio. "Sexo Vegetal". São Paulo: Editora Iluminaturas, 2009. p. 172