Discos de lenha para o calor desta noite.
Um pedaço de tronco enorme.
A julgar pelos círculos teria
pelo menos trezentos anos
quando o derrubaram.
Agora ele e eu, nós dois sozinhos,
compartilhamos a noite gelada e obscura.
A escuridão indizível sugere:
“Esta será a última noite na terra.”
Essa árvore morreu para que eu sobreviva
à xenofobia
do frio em terra estranha
(em ambos sentidos).
Entre sombras que dançam lá fora
e passos de algo ou alguém em redor
da cabana no mais profundo norte.
Queima bem o tronco feito lenha
e eu fico observando o fogo.
Penso na árvore viva há cem anos.
Me esperava (e eu ainda não nascia)
para esta noite de fim e de encontro.
Nasceu, cresceu e morreu com o único objetivo
de me dar luz, calor e fogo esta noite.
Mas daqui a algumas horas
eu, o ingrato, partirei daqui.
Não há remédio.
Outro está a caminho deste bosque.
Para chegar à cabana, ainda precisa
contornar o círculo de um século.
Pacheco, José Emilio. "Tronco." Tarde o temprano: poemas 1958-2009. 1 ed. Barcelona: Tusquets Editores, 2010. pp. 557-58
Primera edición en: Pacheco, José Emilio. La arena errante: poemas, 1992-1998. México: Ediciones Era, 1999.