Ecopoesia

Monólogo do babuíno / Solilóquio do Símio

José Emilio Pacheco

Monólogo do babuíno

 

Eu, o babuíno, nascido em uma jaula,

entendi que: neste mundo,

em todo lugar que você olha,

tem grades e mais grades.

Não consigo ver nada

que não esteja cercado por grades.

Dizem: Há macacos livres!

Eu não vi senão inúmeros macacos prisioneiros,

sempre entre grades.

Pelas noites sonho com a selva eriçada por grades.

Minha existência consiste em ser observado.

Vem uma multidão que se chama <<gente>>.

Eles gostam de me inflamar. Divertem-se,

quando minha fúria faz as grades tremerem.

Minha liberdade é minha jaula.

Só morto eles vão me tirar dessas brutas grades.

 

 

Tradução para o português: Antônia de Jesus Sales

 

Solilóquio do Símio

 

Nascido aqui na jaula, eu o babuíno

o primeiro que aprendi foi: este mundo

por onde quer que se olhe tem

grades e grades.

Não posso ver nada

que não esteja entigrecido pelas grades.

Dizem: Existem símios livres.

Eu não vi nada

senão infinitos símios prisioneiros,

sempre entre as grades.

Durante as noites sonho

com a selva eriçada pelas grades.

Minha existência consiste em ser observado.

Vem a multidão que chamam “gente”.

Gosta de me atiçar. Se diverte

quando minha fúria faz soar as grades.

Minha liberdade é minha jaula

Só morto

vão me tirar destas grades brutais.

 

Tradução para o português: Mary Anne Warken S. Sobottka

 

 

 

Pacheco, José Emilio. "Monólogo del mono." Tarde o temprano: 1958-2009. 1 ed. Barcelona: Tusquets Editores, 2010. pp. 228-29.

Primera edición en: Pacheco, José Emilio. Desde entonces: poemas, 1975-1978. México: Ediciones Era, 1980.

 

 

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