Monólogo do babuíno
Eu, o babuíno, nascido em uma jaula,
entendi que: neste mundo,
em todo lugar que você olha,
tem grades e mais grades.
Não consigo ver nada
que não esteja cercado por grades.
Dizem: Há macacos livres!
Eu não vi senão inúmeros macacos prisioneiros,
sempre entre grades.
Pelas noites sonho com a selva eriçada por grades.
Minha existência consiste em ser observado.
Vem uma multidão que se chama <<gente>>.
Eles gostam de me inflamar. Divertem-se,
quando minha fúria faz as grades tremerem.
Minha liberdade é minha jaula.
Só morto eles vão me tirar dessas brutas grades.
Tradução para o português: Antônia de Jesus Sales
Solilóquio do Símio
Nascido aqui na jaula, eu o babuíno
o primeiro que aprendi foi: este mundo
por onde quer que se olhe tem
grades e grades.
Não posso ver nada
que não esteja entigrecido pelas grades.
Dizem: Existem símios livres.
Eu não vi nada
senão infinitos símios prisioneiros,
sempre entre as grades.
Durante as noites sonho
com a selva eriçada pelas grades.
Minha existência consiste em ser observado.
Vem a multidão que chamam “gente”.
Gosta de me atiçar. Se diverte
quando minha fúria faz soar as grades.
Minha liberdade é minha jaula
Só morto
vão me tirar destas grades brutais.
Tradução para o português: Mary Anne Warken S. Sobottka
Pacheco, José Emilio. "Monólogo del mono." Tarde o temprano: 1958-2009. 1 ed. Barcelona: Tusquets Editores, 2010. pp. 228-29.
Primera edición en: Pacheco, José Emilio. Desde entonces: poemas, 1975-1978. México: Ediciones Era, 1980.