Ecopoesia

Fruto de pedra

José Emilio Pacheco

Mudez da ostra

no silêncio subaquático.

Areia e sal

pela boca que tudo filtra

Resistência à luz, teimosia.

A ostra quer ser ostra e ficar presa

a sua congregação quase de pedra.

 

Pétrea se vê o acinzentado,

a consistência calcária

que a envolve e lhe dá sentido

— Mas também a aprisiona.

 

A ostra vive entre sonhos da água

e coisas invisíveis ao olho humano.

Medita cegamente no absurdo que encontra

em nascer, viver, secretar

durante muitos anos sua casa-sepultura.

 

E então ser arrancada

para durar um instante

entre as mandíbulas do inferno,

isto é, as nossas

 

Pacheco, José Emilio. "Fruto de piedra." Tarde o temprano: 1958-2009. 1 ed. Barcelona: Tusquets Editores. pp. 561-62. 

Primera edición en: Pacheco, José Emilio. La arena errante: poemas, 1992-1998. México: Ediciones Era, 1999.

Tradução para o português: Elys Regina Zils




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