Lição de uma semana no campo: os animais que nos beneficiam conformam-se com a nossa ingratidão. O cavalo, a vaca, o porco, o burro, a ovelha,
o cabrito, o cordeiro têm um olhar triste e bondoso.
No entanto os olhos do falcão irradiam vivacidade, soberbia, alegria, confiança em si mesmo.
O falcão, modelo para a flecha, é a máquina de matar, o avião de combate, o míssil terra-ar. Ave de rapina contra animal de corte
e carga, os outros nos dão tudo: o falcão só sabe dar morte. Deve
seu orgulho ao sentir-se do lado do poder, entre os vencedores.
Certo de como funciona o mundo e de quem são os que ganham as guerras,
o falcão me observa, me despreza e levanta voo.
Pacheco, José Emilio. "Filozoofía." Tarde o temprano: 1958-2009. 1 ed. Barcelona: Tusquets Editores. p. 768.
Primera edición en: Pacheco, José Emilio. La edad de las tinieblas: cincuenta poemas en prosa. México: Ediciones Era, 2009.
Tradução para o português: Mary Anne Warken S. Sobottka