Quando eu me largo, porque achei
no animal que observo atentamente
um objeto mais interessante de estudo
do que eu e minhas mazelas ou
imoderadas alegrias;
e largando de lado, no processo,
todo e qualquer vestígio de quem sou,
lembranças, compromissos ou datas
ou dores que ainda ficam doendo;
quando, hirto, parado, concentrado,
para não assustá-lo, com o animal me confundo,
já sem saber qual dos dois
pertence a consciência de mim –
– qualquer coisa maior se estabelece
nessa ausência de distinção entre nós:
a glória, a beleza, o alívio,
coesão impessoal da matéria, a eternidade.
Fróes, Leonardo. “O observador observado”. Poesia.br: 1960. Ed. Sérgio Cohn. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012. p. 107.