Ecopoesia

O observador observado

Leonardo Fróes

Quando eu me largo, porque achei

no animal que observo atentamente

um objeto mais interessante de estudo

do que eu e minhas mazelas ou

imoderadas alegrias;

 

e largando de lado, no processo,

todo e qualquer vestígio de quem sou,

lembranças, compromissos ou datas

ou dores que ainda ficam doendo;

 

quando, hirto, parado, concentrado,

para não assustá-lo, com o animal me confundo,

já sem saber qual dos dois

pertence a consciência de mim –

 

– qualquer coisa maior se estabelece

nessa ausência de distinção entre nós:

a glória, a beleza, o alívio,

coesão impessoal da matéria, a eternidade.

 

 

 

Fróes, Leonardo. “O observador observado”. Poesia.br: 1960. Ed. Sérgio Cohn. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012. p. 107.




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