Quando chove assim tão seguidamente na serra
e começa a pingar água na casa e a goteira
cresce e a pia entope e alaga o chão,
quando não cessa esse barulho insistente
de água penetrando em tudo e rolando,
sinto uma desproteção total e violenta
e eu mesmo sendo dissolvido também
nessa casa alagada, não me acho
enquanto solidez: vou flutuando
como onda inconstante na correnteza.
Fróes, Leonardo. “Dia de dilúvio.” Poesia.br: 1960. Ed. Sérgio Cohn. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012. p. 106.