Ecopoesia

XI

Astrid Cabral

Cedros, copas em colóquio

de auroras e crepúsculos.

Cedros, os séculos gravados

em seus anéis de lenho:

pontuais estações trazendo

neve, florações e ventos.

Dias idos desceram a montanha

trocando o solo firme pelo

instável caprichoso mar

metamorfoseados em barcos

troncos feitos popa e proa

galhos em altos mastros

a cumprirem remotas rotas

de aventuras e labutas

mediterrâneo jônio tirreno

milenares mares singrados

em transas de comércio vário.

Dias idos e foram traves

em naves e pilastras de templos

quando Molock era adorado

e Salomão ainda reinava.

Agora raros, remanescem

em altiva contemplação:

um, contemporâneo de Cristo

outro, símbolo da nação.

Todos testemunhas da raça

de gigantes em extinção.

 

 

 

Cabral, Astrid. “XI.” Torna-viagem. Recife: Edições Pirata, 1981. p. 100.

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