Cedros, copas em colóquio
de auroras e crepúsculos.
Cedros, os séculos gravados
em seus anéis de lenho:
pontuais estações trazendo
neve, florações e ventos.
Dias idos desceram a montanha
trocando o solo firme pelo
instável caprichoso mar
metamorfoseados em barcos
troncos feitos popa e proa
galhos em altos mastros
a cumprirem remotas rotas
de aventuras e labutas
mediterrâneo jônio tirreno
milenares mares singrados
em transas de comércio vário.
Dias idos e foram traves
em naves e pilastras de templos
quando Molock era adorado
e Salomão ainda reinava.
Agora raros, remanescem
em altiva contemplação:
um, contemporâneo de Cristo
outro, símbolo da nação.
Todos testemunhas da raça
de gigantes em extinção.
Cabral, Astrid. “XI.” Torna-viagem. Recife: Edições Pirata, 1981. p. 100.