Antes só conhecia o tucunaré
da banca do mercado, ensangüentado
ou saltitante no bojo da canoa
abicando na praia do rio Negro.
Tucunaré para mim era manjar
aroma na terrina me fisgando
sem demora impelindo-me a comer
sem pensar em escamas ou espinhas.
Só via a pinta rubra bem redonda
ali perto do rabo, o talhe longo
e o gostosíssimo sabor na boca.
Quedei-me, pois, perplexa, genuflexa
com a história de seu universo
naquela reportagem da telinha.
Passei a sentir-me sua parenta
vendo o tucunaré super-humano
a proteger os alevinos tecendo
com amorosos cuidados um escudo
contra os perigos do rio a rondarem
os inocentes peixinhos, em vez
de largá-los ao deus-dará das águas.
Cabral, Astrid. "Parentesco." Cage. Austin: Host Publications, 2008. p. 28.