Ecopoesia

Bicho-de-sete-cabeças

Astrid Cabral

À medida que envelheço

as sete cabeças do bicho

corto. Enfim o reconheço

íntimo de mim, meu próximo.

 

À medida que envelheço

conquisto-lhe o segredo.

Vejo a morte iniciação

à viagem pelo avesso.

 

À medida que envelheço

digo: o bicho é meu amigo.

Não, não há porque maldar

envenenando o sossego.

 

À medida que envelheço

sinto-me remanescente

num deserto onde tropeço

por entre sombras de ausentes.

 

À medida que envelheço

aprendo a perder o medo.

Todo bicho fica meigo.

É só botar no colo.

 

 

 

Cabral, Astrid. “Bicho-de-sete-cabeças.” Cage. Austin: Host Publications, 2008. p. 14.




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