Ecopoesia

Extinção

Régis Bonvicino

O lobo-guará é manso

foge diante de qualquer ameaça

é solitário

avesso ao dia, tímido

 

detesta as cidades

para fugir do ataque

cada vez mais inevitável

dos cachorros

 

atravessa estradas

onde quase sempre é atropelado

onívoro, com mandíbulas fracas

come pássaros, ratos, ovos, frutas

 

às vezes, quando está perdido,

vasculha latas de lixo nas ruas

engasga ao mastigar garrafas

de plástico ou isopores

 

se corta e ou morre ao morder

lâmpadas fluorescentes

ou engolir fios elétricos

morre ao lamber inseticidas

 

ou restos de tinta

ou ao engolir remédios vencidos

ou seringas e agulhas

descartáveis

 

dócil, sem astúcia,

é facilmente capturado e morto

por traficantes de pele

quando então uiva

 

 

 

Bonvicino, Régis. “Extinção.” Página órfã. São Paulo: Martins, 2007. pp. 82-83.

Comment Box is loading comments...